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Nos jornais de outubro, o caso da morte de Vitor Gurman voltou às notícias

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu que a acusada de atropelar e matar o administrador de empresas Vitor Gurman de 24 anos na época não vai a júri popular. O crime ocorreu em julho de 2011, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. A juíza do caso havia decidido que a motorista teria de responder a júri popular por homicídio doloso (intencional), por ter atropelado Gurman após ingerir bebida alcoólica. Mas por maioria de votos, agora em 2017, os desembargadores desclassificaram de homicídio doloso para culposo. O relator designado afirmou que não há indícios suficientes para comprovar que a motorista do carro que o atropelou agiu dolosamente, assumindo o risco de morte. 

De uma maneira ou outra as duas famílias estão sofrendo com este problema, mas alguém foi morto por um motorista embriagado. O problema do jovem e até do brasileiro é que muitos são binge drink, ou seja, bebem em excesso nos fins de semana, bebem por impulso.

Rafael Baldresca, que teve a mãe e a irmã atropeladas e mortas na calçada do shopping Vila Lobos, também nesta época, foi convidado um mês após o episódio a falar para os alunos da FMUSP no HU USP. Ele comentou que se as coisas não mudassem, em 20 anos todos nós teríamos um familiar ou amigo próximo com a vida perdida vítima de um alcoolizado dirigindo. Eu já tenho o meu caso ocorrido há muito tempo mas que deixou marcas irreparáveis na família.

Em 2012, no auge da implantação da lei seca aqui em São Paulo, duas residentes, minhas alunas, da faculdade de Medicina da USP, foram até dois bares da Vila Madalena e entrevistaram 50 pessoas que estavam bebendo nestes locais. 25 destas iriam dirigir e 25 não iriam dirigir. A média de shops entre os dois grupos foi de 4 unidades por noite, variando de zero a dez, nos 2 grupos: o que iria dirigir e o que não iria dirigir. Ou seja havia uma pessoa que não havia bebido em cada grupo e uma outra que havia bebido 10 shops e que também iria dirigir. Não houve diferença nas medições dos bafômetros nos 2 grupos.  E o pior é que aqueles que não iriam dirigir iriam pegar carona com aqueles que iriam dirigir. Uma dose de álcool já altera a percepção e reconhecimento pelo jovem em identificar se o motorista do carro está ou não embriagado. Ou seja, a lei seca nada significava.

Na mesma época eu fui a um churrasco com os meus residentes e no final dele abri a minha maleta e tirei dela dois bafômetros, um descartável e outro igual ao da polícia. Este foi o último churrasco que eu fui convidado, mas saí de lá com um “trabalhinho científico”. Dos 11 residentes, todos haviam tomado cerveja. Quem bebeu durante o churrasco 4 ou 5 latas de cerveja iria sair de lá dirigindo.

O problema do álcool começa dentro de casa. Cada um de nós é responsável pela iniciação precoce no uso de bebida alcoólica nos nossos jovens. A principal medida para estancar esta praga (que é a iniciação precoce de bebida alcoólica) é a retirada da propaganda da mídia das 6 às 21 hs.  Há 20 anos atrás ninguém pensaria que não estaríamos fumando dentro de recintos fechados, mas isto aconteceu. Espero que a retirada da propaganda de cerveja  da mídia ocorra em breve, pois a retirada da propaganda. Do tabaco foi fundamental para diminuição de 30% de fumantes no país para 10% em 20 anos.

Um filho de amigo perguntou ao pai o que era ser BRAMEIRO, pois aos 8 anos ele havia visto propaganda na TV na hora do futebol que dizia: “O meu sucesso é por que eu sou Brameiro”. Nossas crianças já estão crescendo com a ideia de que o sucesso é porque somos brameiros. Pelé nunca fez propaganda de cigarro ou bebida alcoólica, mas os nossos jogadores teimam em fazê-lo. Parabéns ao Pelé. Esporte não combina com bebida alcoólica. Temos que mudar a legislação da propaganda da bebida alcoólica pois a cerveja na lei da propaganda é considerada refrigerante. E cerveja também tem álcool.

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