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Parar de fumar, uma difícil conquista

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É preciso muita força de vontade e até ajuda profissional para deixar o vício da nicotina

Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado no fim de 2013 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que 90% dos estimados 20 milhões de fumantes brasileiros querem parar de fumar. Contudo, apenas 7,3% deles procuram ajuda profissional. Largar o cigarro não é coisa simples. A dependência do tabaco é complexa e poderosa. O cérebro “acostuma-se” ao cigarro e fará tudo para que o fumante permaneça nessa condição. Parar de fumar, portanto, é uma conquista que pode levar tempo, mas a cada nova tentativa aumentam as chances de sucesso. O importante é não desistir.

O pneumologista João Paulo Lotufo encabeça o grupo de profissionais responsáveis pelos tratamentos antitabagismo no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com ele, a grande maioria dos dependentes de tabaco não procura ajuda profissional justamente por temer o fracasso. Convencer alguém a parar de fumar não implica infernizar a vida do dependente. “A insistência pela crítica não é um método eficaz. O ideal é sensibilizar o dependente quanto aos problemas relacionados ao cigarro para a saúde dele e das pessoas de seu convívio. Além disso, é necessário garantir estímulos e demonstrar apoio à iniciativa”, explica Lotufo.

A substância presente no cigarro responsável pela dependência química é a nicotina, que atua no sistema nervoso central causando sensação de bem-estar e leve euforia. Seu efeito é de pouca duração, cerca de duas horas, em média. Aos poucos, o organismo cria tolerância aos níveis de nicotina e, a cada dia, o fumante diminui mais o tempo entre um cigarro e outro. Não à toa, a nicotina detém o título de substância que mais provoca dependência química entre todas as drogas, licitas ou ilícitas.

Como o cigarro cria uma dependência de caráter diverso química, comportamental e psicológica é preciso intervir simultaneamente em todas as frentes. O primeiro passo, segundo os especialistas, é marcar uma data para largar o vício. Essa atitude assinala a virada que o fumante deseja dar em sua vida. A segunda etapa é árdua: a fase de abstinência. Com a interrupção do consumo de cigarro, o cérebro lançará mão de poderosas armas de persuasão para fazer o indivíduo voltar ao vício.

Todo fumante que ficou sem cigarro por algumas horas já foi alvo dessas armas cerebrais. Ansiedade, inquietação, tristeza, irritabilidade, distúrbios do sono, falta de concentração, dor de cabeça, alteração do hábito intestinal, tonturas esses sintomas são os responsáveis pelas recaídas. Basta uma tragada e, em segundos, todas essas sensações desagradáveis desaparecem. Após 48h sem fumar, a frequência das crises e a intensidade dos sintomas começam a diminuir, e assim prosseguem, gradativamente, dia após dia. Viciados em nicotina, os neurônios responsáveis pela sensação de prazer, ao sentirem falta da droga estimulam outros circuitos de neurônios, estes responsáveis pela indução à repetição. “Na maioria dos casos, o paciente que abandona o cigarro lança mão de alimentos açucarados e gordurosos, o que pode levar a um quadro de obesidade. Por isso, recomenda-se ter à mão alimentos mais saudáveis, como ‘palitos’ de cenoura, que, além de imitarem o formato do cigarro, satisfazem esses impulsos”, orienta Lotufo.

A prática de atividade física é outro hábito que deve ser incorporado à rotina do ex-fumante. Com os exercícios, o organismo produz endorfina, substância que libera a sensação de prazer corporal.

Medicação

o uso de medicação não é descartado. “São indicados adesivos que repõem em doses baixas a nicotina no organismo e medicamentos tomados via oral, como a bupropiona, que atua como antidepressivo. Há ainda a vareniclina, um remédio de alto custo que inibe o prazer proporcionado pelo cigarro. Esta última não está disponível no SUS (Sistema Unico de Saúde)”, diz Lotufo. Nenhum desses medicamentos provoca dependência que se compare à causada pela nicotina. O tratamento medicamentoso pode durar até três meses. Mas Lotufo ressalva: “o medicamento não é fator determinante para largar o cigarro. Tenho grupos de ex-fumantes em que os integrantes conseguiram largar o vício sem a utilização dos remédios”.

O último passo para largar definitivamente o cigarro é o tratamento comportamental ou psicológico. “Nesta fase, um profissional ajuda o paciente a identificar os ‘gatilhos’ comportamentais ou psicológicos que podem provocar recaídas. Entre os comportamentais, os mais comuns são situações como o cafezinho no meio da tarde e o consumo de álcool. Já os psicológicos referem-se às situações estressantes e emocionais ligadas ao cigarro, como fumar para lembrar um parente falecido que também fumava, por exemplo”, esclarece o pneumologista. No decorrer das etapas do tratamento antitabagismo, o dependente pode ser encaminhado a um grupo de apoio, onde encontra suporte de outros ex-fumantes para enfrentar as dificuldades.

Reação Positiva

A reação positiva do organismo ao abandono do cigarro é imediata. Depois das primeiras 36 horas sem fumar, a pressão arterial se equilibra e o risco de infarto já é bem menor. Quem fuma tem de duas a três vezes mais chance de enfartar do que um não-fumante. Após duas semanas sem tabaco, o paladar e o olfato aguçam-se, respirar torna-se mais fácil e o indivíduo ganha fôlego e disposição para praticar atividades físicas. A boca e as mãos perdem o cheiro de cinzeiro característico dos fumantes.

Aos poucos, doenças cardiovasculares, disfunção erétil e claudicação intermitente (má circulação nos membros inferiores, que pode levar à amputação) têm seus riscos reduzidos. “Infelizmente, o alto risco para as doenças degenerativas, como câncer e enfisema pulmonar, se manterá por pelo menos cinco anos após o último cigarro.

Dependendo da quantidade de cigarros consumidos durante a vida, pode demorar até dez anos para que as taxas de risco voltem a ficar no patamar de um não-fumante”, ressalta Lotufo.

Tratamentos gratuitos

Por meio do Programa Nacional de Controle 90 Tabagismo, do Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito a quem deseja parar de fumar em mais de três mil unidades públicas de saúde espalhadas por mais de cinco mil municípios do país. O serviço contempla apoio psicológico, terapêutico e medicamentoso. Em 2013, o Ministério da Saúde informou que pretende levar o programa para 30 mil unidades de saúde. Os postos que oferecem esse tratamento no Estado de São Paulo estão listados na página do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), em www.saude.sp.gov.br.

O Hospital Universitário da USP também oferece tratamento gratuito contra o tabagismo. Os atendimentos são realizados em grupo, por uma equipe multiprofissional. Veja informações em www.tabagismo.hu.usp.br ou pelo telefone (11) 3091-9323, ou se tem problemas com ÁLCOOL, TABACO e MACONHA na adolescência, ligue para o Dr. Bartô no (11) 3024-7490

Legislação e campanhas antitabagistas

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 5 milhões de pessoas morrem anualmente de causas relacionadas ao tabagismo, um número maior que as vítimas da Aids, malária e tuberculose juntas. Para tentar amenizar o problema foi instituída a Convenção da OMS para o Controle do Tabaco, que visa a reduzir o tabagismo, incentivando as restrições à publicidade e vendas de produtos à base de tabaco. Mais de 170 países já aderiram à Convenção desde que ela entrou em vigor, em 2005.

O Brasil conta com legislação federal, estadual e municipal, a proibir o consumo de cigarros em ambiente fechado. Também estão em vigor a proibição de propagandas e a determinação para que os maços de cigarros tenham fotos a demonstrar os males causados pelo fumo. Além disso, é vedada a venda de produtos derivados do tabaco a menores de 18 anos E, em 26 de dezembro último, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei nl! 12.921, que entra em vigor em junho próximo, que veda a fabricação e comercialização de produtos em formato de cigarro destinados a crianças e adolescentes. Fica ainda proibida a importação e distribuição desses produtos ou de mercadorias em embalagens que lembrem cigarros.

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