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Cigarro eletrônico conquista consumidores e levanta preocupação entre especialistas

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De formato semelhante a um cigarro comum, o produto eletrônico é um dispositivo plástico com uma bateria que gera calor para evaporar nicotina líquida e substâncias aromatizantes contidas em cartucho descartável, vendido separadamente. Em vez de fumaça, ele gera vapor. Por não queimar, não libera tantas substâncias tóxicas e cancerígenas quanto o cigarro convencional.

Isso, entretanto, não o faz seguro. Extraída do tabaco, a nicotina, além de ser a substância responsável por causar dependência química, está associada a diversos problemas de saúde, como doenças cardiovasculares. O nível de nicotina nos cigarros eletrônicos geralmente é entre uma e duas vezes menor do que o dos cigarros normais, variando de acordo com o tipo de cartucho comprado.

Mas a informação dos rótulos nem sempre é confiável. Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto do Câncer Roswell Park (RCPI), nos Estados Unidos, analisou quatro das mais comuns marcas de cigarro eletrônico e verificou que a concentração de nicotina nos refis chegou a ser 20% maior do que a declarada pelos fabricantes. A substância também foi encontrada mesmo em cartuchos anunciados como livres dela.

O pneumologista Alberto Araújo, diretor do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo (Nett) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da comissão de tabagismo do Conselho Federal de Medicina (CFM), ressalta que, além da nicotina, os cartuchos de cigarro eletrônico apresentam outras substâncias perigosas, como o propilenoglicol, usado no arrefecimento de motores e na produção de gelo seco, e metais pesados derivados do cultivo do tabaco. “O cigarro eletrônico está longe de ser inócuo”, afirma. “A nicotina vaporizada se liga ao ácido nitroso do ambiente e forma as nitrosaminas nicotínicas, que são cancerígenas, e o propilenoglicol, que quando inalado provoca irritação nas vias aéreas, podendo gerar episódios de bronquite e asma.”  

Por conta da presença de substâncias cancerígenas e pela ausência de estudos controlados que mostrem a segurança do produto, a importação, a comercialização e a propaganda do cigarro eletrônico estão proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 2009. A decisão da agência segue a tendência dos grandes órgãos sanitários internacionais, como a Organização Mundial de Saúde, de orientar médicos e autoridades sanitárias a não recomendar o dispositivo como meio para abandonar o tabagismo.

Remédio ou veneno?
O pneumologista Alberto Araújo  diz que não há como chegar a conclusões de que o cigarro eletrônico pode ajudar a parar de fumar apenas com levantamentos sobre comportamento e sem estudos epidemiológicos. Ssalienta que existem for­mas mais eficientes de tratar a dependência de tabaco. “Temos disponíveis medicamentos com eficácia já comprovada cientificamente e que não apresentam danos”, pontua. “O dispositivo eletrônico é um disfarce, é um cigarro e não um medicamento para ajudar os fumantes.”

Outra questão destacada pelo médico, que trabalha com fumantes há 15 anos, é a dependência comportamental. Por ser muito semelhante a um cigarro comum e exigir os mesmos hábitos de uso, o artefato eletrônico tornaria mais difícil a quebra do vício. “Ele imita um cigarro e isso vai contra um princípio básico no tratamento da dependência que é desfazer a dependência comportamental”, diz. “Quando opaciente está tentando parar, não pode usar nada como o cigarro, ter nada entre os dedos que leve à boca.”

Do males, o menor
Mesmo ile­gal no país, o cigarro eletrônico vem sendo usado e até prescrito em segredo por alguns profissionais de saúde como forma de redução de danos. A lógica por trás da indi­ca­ção é que, apesar de fazer mal, ele faz menos mal que o cigarro con­vencional e isso já seria um ganho para o paciente com dificuldade de largar o vício. “É veneno por um la­do, mas ajuda algumas pessoas”, comenta a psicóloga Sabrina Presman, vice-presidente da Associa­ção Bra­sileira de Estudos de Álcool e outras Drogas (Abead). “Ainda não temos dados suficientes para recomendar nem para lançar uma cruzada contra os cigarros eletrônicos.”

A sanitarista Tânia Cavalcante, secretária executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro sobre Tabaco e pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer (Inca), lembra, por outro lado, que, apesar de liberar menos substâncias, não é possível afirmar que a troca pelo cigarro eletrônico resulte em menos prejuízos. “Em tese, não existe redução de danos quando falamos de tabaco porque não existe limite seguro”, diz. “Qualquer dose de exposição a substâncias cancerígenas pode levar ao desenvolvimento do câncer, que pode só aparecer depois de anos de exposição. Somente estudos epidemiológicos futuros poderiam comprovar uma possível redução de danos.”

Outro argumento comumente utilizado é o de que o cigarro eletrônico apresentaria também menos riscos para o fumante passivo por não liberar o monóxido de carbono da fumaça. A mesma pesquisa do Instituto do Câncer Roswell Park (RCPI) que analisou a quantidade de nicotina nos cigarros eletrônicos também avaliou os resíduos da substância deixados em superfícies depois de acendido o dispositivo. O resultado encontrado em três de quatro testes foi uma grande quantidade de nicotina no ambiente.

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