A experiência do HU USP em prevenção de drogas foi levada na recepção
de calouros da Faculdade de Veterinária e Zootecnia e do Instituto de
Matemática e Estatística da USP. Estão de parabéns por se preocuparem
com seus calouros.
A presença dos pais já tradição na VET USP também aconteceu no IMEP.
A animação da palestra de prevenção de drogas foi ponto alto. A plateia
em ambas as faculdades com pais presentes foi o diferencial. A
presença dos pais no primeiro dia de aula é fundamental para se evitar
trote violento e produz uma confiança na Instituição.
É o quinto ano que Dr João Paulo Lotufo leva para a VET USP sua
experiência sobre a questão das drogas no adolescente, chamando o
Tabagismo, o Álcool e a Maconha como Doenças Pediátricas, pois se
iniciam precocemente. Mas é no primeiro ano da faculdade que estas
questões podem transcender o razoável.
Dr João Paulo Lotufo alerta que: “ não é a maioria dos alunos que
bebe excessivamente ou usa drogas, aliás é uma minoria. A escolha do
grupo a que você calouro irá pertencer é importante: estar no grupo
errado pode leva-lo para fora de sua meta.
Parabéns ao diretor de faculdade de Veterinária prof Dr Enrico L
Ortolani que chamou e conversou individualmente todos seus novos alunos,
dando as boas vindas.
Parabéns ao diretor do IMEP USP, prof. Dr. Clodoaldo Grotta Ragazzo pela sua equipe e a iniciativa, além da animação de todos seus alunos e equipe.
Sobre o empenho do Dr Lotufo nestas questões, ele diz: “Podemos ficar na instituição universitária fazendo apenas o necessário, ou podemos fazer o “Algo a mais , que fará a diferença”.
Os pais exercem uma grande influência no consumo de álcool por
adolescentes. É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores do
Instituto Nacional em Saúde, em Taiwan. Segundo a pesquisa, o poder do
pai ou da mãe difere de acordo com o gênero do filho. As meninas escutam
mais a opinião da mãe, enquanto os meninos valorizam principalmente a
restrição imposta pelo pai.
Para o levantamento, 3.972 estudantes, de 14 e 15 anos, responderam a um
questionário sobre seus hábitos de consumo de bebida alcoólica, a
freqüência com a qual os pais bebiam e qual era a postura dos familiares
sobre o tema.
Do total, 680 estudantes afirmaram que haviam consumido bebida alcoólica …
O alcoolismo sempre foi um fenômeno predominantemente masculino. Mas essa realidade está mudando
Por Ana Freitas | 01 Nov 2016
Nos anos 1960, anúncios de bebida – como esse, da Martini – eram predominantemente focados em homens
Historicamente, o alcoolismo e suas consequências para a saúde são
encarados pela medicina como um fenômeno predominantemente masculino. Um
estudo australiano publicado em outubro de 2016 no jornal BMJ Open mostra, no entanto, que essa tendência está começando a mudar – em todo o mundo.
Financiado pelo governo australiano, o estudo mostra que, se levarmos
em conta dados mundiais, o abuso de álcool já se igualou em alguns
grupos etários, especialmente entre as mulheres mais jovens. É o
primeiro estudo que sistematicamente reúne toda a literatura acadêmica e
médica disponível no mundo sobre o consumo de álcool entre mulheres e
oferece um panorama mundial.
Pesquisas realizadas no Brasil também apontam um crescimento maior do
consumo de álcool entre mulheres do que aquele registrado entre
homens. Há 20 anos, havia apenas uma mulher alcoólatra para cada dez
homens dependentes no Brasil.
Hoje, a cada dez dependentes, quatro são mulheres. Nos próximos 25 anos, dizem especialistas, o padrão de consumo deve se igualar para os dois grupos.
Como o consumo de álcool afeta o metabolismo
Entre homens e mulheres, o abuso de álcool oferece uma série de riscos
à saúde física e mental. Em 2010, o alcoolismo esteve relacionado a 5
milhões de mortes e foi responsável por cerca de 161 milhões de anos de
vida perdidos entre as vítimas da doença.
Entre os efeitos, estão o aumento do risco de câncer de vários tipos,
degeneração neuronal em várias partes do cérebro, problemas hepáticos e
no sistema digestório como um todo, doenças cardiovasculares e
demência.
O consumo de álcool também tem impactos sociais
e econômicos e está relacionado a violência doméstica e outros
problemas familiares, além de diminuição de produtividade no trabalho e
desemprego.
Riscos específicos ao corpo da mulher
Além de todas as complicações de saúde física e mental que acontecem
em decorrência do alcoolismo para homens e mulheres, as mulheres são
biologicamente mais vulneráveis ao consumo de álcool.
Isso acontece porque, em geral, elas têm menos massa corpórea,
relativamente menos água no corpo e menos enzimas no fígado para
metabolizar o álcool. Relativamente, elas têm menos água no corpo, e
quando consomem álcool na mesma quantidade que homens, demoram mais
para processá-lo.
Os efeitos da substância, portanto, acontecem de maneira mais rápida e
duram mais – o que aumenta as chances de que mulheres tenham problemas
de saúde e até de morte em consequência do abuso de álcool, mesmo tendo níveis de consumo mais baixos ou por menos tempo.
As mulheres têm risco de cirrose três vezes maior que os homens para o
mesmo nível de ingestão de álcool; distúrbios psiquiátricos,
osteoporose e doenças cardiovasculares também têm riscos elevados para
quantidades iguais de consumo.
Outros riscos particulares à saúde feminina que aumentam com o álcool
estão relacionados ao desenvolvimento de câncer de mama e, no caso de
gravidez, a problemas na saúde do feto.
Por que mulheres estão bebendo mais
O estudo australiano não oferece hipótese para o aumento no abuso de
álcool entre mulheres. Mas mudanças culturais importantes sobre os
papéis de gênero podem estar relacionadas a esse aumento.
Nas últimas décadas, as mulheres ocuparam postos de trabalho e
espaços públicos de lazer. Elas conquistaram espaços que eram
privilégio masculino e isso trouxe mais oportunidades de socialização –
o que aumenta as situações de exposição ao álcool – e também mais
situações de exposição a estresse, o que pode motivar o abuso de bebida
alcoólica.
Há também obstáculos sociais para a mulher alcoólatra que são diferentes daqueles vividos pelos homens que abusam do álcool, motivados por um estigma social negativo relacionado a mulheres que consomem álcool e pelo contexto específico da mulher na sociedade.
Decisão judicial refere que três empresas colocaram o “lucro à frente da saúde” das pessoas
Um processo judicial histórico no Canadá conheceu esta
segunda-feira o seu desfecho, 17 anos depois de se ter iniciado. Em
causa está a acusação contra três grandes companhias de tabaco
canadianas, feita por fumadores “seriamente doentes” ou que “não
conseguiam deixar de fumar”. As empresas são acusadas de vender um
produto prejudicial para a saúde e de não terem “advertido
adequadamente” os seus consumidores. Terão de pagar cerca de 11 mil
milhões de euros às vítimas.
“As empresas obtiveram mil milhões de dólares à custa dos
pulmões, das gargantas e do bem-estar geral dos seus consumidores”,
refere o acórdão do juiz do Tribunal Superior do Quebeque, Brian
Riordan, sobre o caso. O documento de 276 páginas questiona também a
“mensagem moral” que a justiça do país estaria a passar se permitisse
que as empresas não fossem responsabilizadas pela sua actuação danosa.
O processo, considerado o maior caso civil na história do
Canadá, foi iniciado em 1998, mas o julgamento, que envolveu mais de 40
mil documentos e 76 testemunhas, só teve lugar em Março de 2012. As
empresas acusadas de vender produtos nocivos para a saúde, desde 1950,
são a Imperial Tobacco Canada, a Rothmans, Benson & Hedges Inc e a
JTI-Macdonald Corp. Segundo os consumidores, estas possuíam uma
estratégia de marketing “sem escrúpulos” e “insuficiente” para alertar
as pessoas para os perigos do tabagismo. Terão ainda, alegadamente,
destruído milhares de documentos “incómodos”.
Andre Lesperance, um dos advogados das vítimas disse à
televisão canadiana CBC, que as três companhias “pactuaram entre si e
mentiram aos seus consumidores durante 50 anos, prejudicando o seu
direito à vida”.
A parte queixosa era composta por dois grupos de “vítimas”, num
total de 100 mil pessoas. Os fumadores que ficaram seriamente doentes e
seus familiares, e os que afirmam que não conseguiram deixar de fumar.
Desde 1998 que estes fumadores ansiavam por um desfecho favorável às
suas pretensões, sendo que esta segunda-feira já foi descrita por Mario
Bujold, director do grupo de lobby anti-tabaco do Quebeque, como “um
grande dia para as vítimas do tabaco”.
Do total de cerca de 11 mil milhões de euros decretados pelo
tribunal como compensação pelos danos “morais e físicos” causados às
pessoas, mil milhões terão de ser pagos nos próximos 60 dias. O acórdão
define ainda um valor para aqueles que começaram a fumar antes de 1976 e
para os que começaram depois dessa data. Perto de 100 milhões de euros
serão ainda distribuídos por cerca de 900 mil residentes do Quebeque,
que terão ficado alegadamente viciados em tabaco.
A Imperial Tobacco Canada foi condenada a pagar a maior parte
do montante decretado, sendo responsável por 67% dos danos causados. A
Rothmans, Benson & Hedges terá de cobrir 20%, ao passo que a
JTI-Macdonald Corp fica responsável pelo pagamento dos restantes 13%.
Empresas vão recorrer
O caso “está longe de acabar”, alertou um porta-voz da
Rothmans, Benson & Hedges, em declarações à CBC, expressando a
posição das três empresas, que informaram imediatamente da intenção de
recorrer da decisão do juiz Brian Riordan.
Entendem as companhias de tabaco que não devem ser
responsabilizadas pelas decisões tomadas pelos consumidores. “A decisão
de hoje ignora a realidade, uma vez que os consumidores e os governantes
conhecem os riscos associados ao tabaco desde há décadas”, disse Tamara
Gitto, vice-presidente da Imperial Tobacco Canada, afirmando que irá
defender os direitos legais da empresa, através do recurso. Na sua
opinião, este desfecho “liberta consumidores adultos de quaisquer
responsabilidades das suas acções”.
Já os responsáveis da JTI-Macdonald Corp entendem que “os
canadianos estão bem conscientes dos perigos para a saúde” causados pelo
tabaco “desde os anos 50”, informando que os avisos estão descritos nos
maços “há mais de 40 anos”.
Nas últimas semanas todos os jornais e revistas semanais tem dado
ênfase ao uso da Maconha, tanto recreacional quanto medicinal. Esta é a
droga em ascensão no planeta. Há interesse comercial nesta história e
inadvertidamente a mídia está ajudando ao aumento do consumo desta
droga.
Soltar notícias como “Maconha no quintal: cresce cultivo para tratar
a epilepsia”, ou “Anvisa aprova primeiro medicamento a base de
maconha” só leva ao incentivo ao uso precoce desta droga.
Você já ouviu reportagens sobre “Hospital usa heroína para
tratamento de dor” ? Não se houve isto, embora usemos a morfina em
todos os centros médicos, esta derivada da heroína.
As notícias tinham que ser dadas de maneira responsável: “A
substância canabidiol parece controlar convulsões”, ou “Os estudos com o
canabidiol estão aumentando e talvez daqui há 15 anos estejamos
tratando convulsões, glaucoma e outras situações com esta nova droga”.
Faço votos que o canabidiol, extraído da Cannabis tenha sucesso
terapêutico nos estudos a que está submetido e possa em poucos anos
ocupar espaço real nas nossas prescrições, mas antes disto, precisamos
alertar principalmente a população jovem das possíveis lesões que o uso
precoce e inadvertido da maconha pode acarretar.
Há necessidade de maior responsabilidade em se tratar a maconha como
uma droga terapêutica ou uma droga inofensiva. A maconha usada na
adolescência pode causar perda de memória e diminui o tamanho do
cérebro. Famílias com jovens com surto psicótico e/ou esquizofrenia
estão pagando o preço do uso recreacional ou terapêutico da maconha. Se
assim for, daqui há 15 ou 20 anos terei que abrir um ambulatório para
tratar pessoas dependentes de maconha como fazemos hoje com o cigarro.
Todo fumante de tabaco tem um avô de 90 anos que fumou a vida toda e
tem muita saúde, mas se esquecem do aumento em 10 x de todas as
doenças tabaco relacionadas com o uso do cigarro. Da mesma maneira, 20%
da população vai ficar dependente da maconha e 1% poderá ter surto
psicótico.
Resumindo, uso de Maconha é uma coisa; uso de Canabidiol é outra. Não confundam uma coisa com outra.
Segundo porta-voz da Casa Branca, há intenção de endurecer a
aplicação da legislação nacional, que proíbe consumo; medida pode
frear tendência regional de descriminalização, que ganhou força com
Obama – em 8 Estados, uso da droga é livre.
Segundo especialista, os canabinoides têm uma margem maior de benefícios terapêuticos sem causar uma overdose
A Casa Branca indicou na quinta-feira, 23, que poderá endurecer a
posição do governo federal em relação ao uso recreativo da maconha, o
que pode ameaçar ou reverter o movimento de legalização da droga e
colocar em risco uma indústria que movimentou US$ 7 bilhões no ano
passado.
Dos 50 Estados americanos, 28 permitem a utilização medicinal da
maconha. Em oito deles e no Distrito de Columbia, o uso recreativo
também é autorizado. Sean Spicer, porta-voz de Donald Trump, disse que
o presidente vê uma “grande diferença” entre os dois tipos de
utilização da droga. Segundo ele, a legislação federal passará a ser
aplicada com mais rigor no caso do uso recreativo.
Apesar de os Estados terem legalizado a droga, sua produção,
comercialização e consumo continuam a ser classificados como crime
pelas leis federais. O movimento pela descriminalização foi possível
porque, durante o governo Barack Obama, o Departamento de Justiça adotou
diretrizes que respeitavam as decisões dos Estados em relação ao
assunto.
Em memorando de 2013, o então secretário de Justiça, Eric Holder,
orientou os procuradores federais a centrarem esforços em oito pontos
prioritários, entre os quais estavam o combate à venda de maconha a
menores, ao uso de recursos obtidos com o comércio da droga em
atividades criminosas e à utilização de armas de fogo em seu cultivo ou
venda.
O governo Trump pode mudar essas diretrizes e orientar os
procuradores federais a aplicar a lei de maneira estrita, sem levar em
consideração as legislações estaduais. O novo secretário de Justiça,
Jeff Sessions, é contrário à legalização e já declarou que “pessoas
boas” não consomem a droga.
Dados do governo americano indicam que 33 mil pessoas morreram em
2015 por abusar de drogas. Não há nenhum registro de morte por
overdose de maconha. Além disso, estudo publicado no ano passado
mostrou redução na prescrição de medicamentos para dor a pessoas que
fazem uso da maconha.
O movimento pela liberalização da droga começou em 1996, quando a
Califórnia aprovou sua aplicação medicinal. Em 2014, Colorado e
Washington se tornaram os primeiros Estados a autorizar o uso
recreativo da droga.
Em 2015, 650 mil pessoas foram presas nos EUA por violações
relacionadas à maconha, o que representou 40% de todas as detenções
motivadas por drogas. Segundo o Drug Policy Alliance, que defende a
legalização, 89% das detenções foram motivadas pela simples posse de
maconha.
Pesquisa do Pew Research, divulgada em outubro, mostrou que 57% dos
entrevistados eram favoráveis à legalização do consumo de maconha –
apenas 37% se declararam contrários. Entre os mais jovens, o apoio
chegava a 70%.
A liberação da maconha interessa a grupos financeiros importantes.
Há mais pontos de venda em Washington e Colorado do que pontos do Mac
Donald e Starbucks, nestes estados que liberaram a maconha.
Tudo isto já ocorreu com o tabaco e está ocorrendo agora com a
maconha: ao mesmo tempo que diminuímos o consumo do tabaco estamos
aumentando o consumo da maconha.
Provavelmente em 20 anos estaremos fazendo com a maconha a mesma luta que estamos fazendo com o tabagismo passivo e ativo nos dias de hoje.
A discussão de legalizar ou não a maconha está na pauta do dia.
Quando Dr. Fergusson, conhecido médico pesquisador de drogas lícitas e
ilícitas, veio ao Brasil em 2013, apresentar suas pesquisas sobre a
maconha realizadas na Nova Zelândia, um dos médicos que estava no
Congresso da ABEAD (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras
Drogas) em Búzios, perguntou a ele:
– O Senhor é a favor ou contra a descriminalização da maconha?
Dr. Fergusson deu uma “enrolada” e não respondeu esta questão diretamente.
O médico ficou bravo com a não resposta do palestrante e insistiu:
– O Senhor é a favor ou contra a descriminalização da maconha? Eu quero uma resposta: SIM ou NÃO?
A resposta do Dr. Fergusson, entretanto, foi a seguinte:
– Meu filho, o mundo não é nem branco e nem preto, o mundo tem vários tons de cinza.
O que Dr. Fergusson quis dizer com isso foi que a discussão da
maconha não pode ser resumida entre legalizar ou não. Há várias outras
possibilidades a respeito como multas e penas menores para o consumo,
autocultivo em quantidades pequenas como no Uruguai, procedimentos
administrativos como em Portugal (participar de tratamento médico e
jurídico), tolerância de uso em lugares privados como na Holanda etc.
Polarizar em descriminalizar ou não é prejudicial à discussão.
Analisando do ponto de vista da saúde, a preocupação das Sociedades
Pediátricas quanto a este assunto é que, com a liberalização,
perderia-se o medo da droga e aumentaria o seu consumo entre jovens e
adolescentes. Isto, de certa forma, já vem acontecendo. O número de
jovens que experimentam a maconha até os dezessete anos está muito
perto dos que experimentam o cigarro (20 e 25% respectivamente – dados
do HU-USP 2014).
Sete estados norte americanos já estão com a droga legalizada para
uso recreativo e quase metade do país permite uso medicinal da maconha.
Junto com a última eleição para presidente, vários estados optaram
através de plebiscitos pela descriminalização da Maconha. Podemos
dizer, portanto, que esta tem sido a tendência: a legalização das
drogas leves.
O tema, entretanto, é complexo. Somente para citar dois exemplos,
lembro do caso recente do Canabidiol, substância da maconha que poderia
ser usada em certos remédios contra convulsões e que atraiu interesse
da grande mídia. A falta de pesquisas definitivas sobre o assunto,
entretanto, torna tal discussão precipitada, quase uma questão de
achismo. Ademais, durante os referendos que legalizaram o uso da
maconha, surgiu outra problemática que até então não havia sido pensada:
o interesse de companhias privadas em lucrar com a legalização das
drogas. Através de lobby, assim como fizeram e fazem a indústria do
cigarro e bebida, tais companhias avançavam sua obsessão por lucros,
sem mostrar o interesse em uma discussão franca sobre o assunto das
drogas lícitas e ilícitas. Para tais empresas, seria melhor não o uso
recreativo da droga, mas sim ao seu uso diário e viciante. Tal lobby
inibe políticas públicas contrárias ao uso de drogas, e nos estados de
Washington e Colorado que foram os primeiros a liberarem a maconha, 20%
da população já é responsável por 76% do consumo, concentrado na
parcela mais pobre da população que chega a gastar até 25% do seu
salário com compra de drogas. Tudo isto tem um ar de déjà vu para quem está na luta contra as empresas de tabaco há alguns anos.
Estes dados e muitos outros foram apresentados no Congresso de
Prevenção de Drogas Freemind em Campinas, em dezembro de 2016, por
Jeffrey Zinsmeister, membro do Drug Policy Institute, da Universidade
da Flórida. Outros dados alarmantes apresentados por ele foram sobre a
ingestão acidental de drogas por crianças em lugares onde legalizou-se a
maconha; a crescente presença de maconha encontrada em autópsias
feitas após acidentes fatais de carro, nos estados norte americanos que
legalizaram o uso da droga; e o uso abusivo de drogas por jovens que
ainda não chegaram à maturidade neurológica e que desconhecem os
efeitos que a maconha, mas também o álcool, podem ter para o seu
desenvolvimento.
A questão da legalização ou não da droga, diante dos dados
apresentados, parece passar ao segundo plano; e a prevenção – que deve
ser feita em ambos os casos – ganha destaque. Falar de legalização sem
levar em conta os males que drogas leves – assim como o cigarro e o
álcool – podem causar, é não reconhecer a complexidade do assunto. É
preciso que as sociedades pediátricas desenvolvam de forma séria o
aconselhamento breve sobre álcool, cigarro e outras e drogas, para
retardarmos a experimentação e diminuir o uso das drogas lícitas e
ilícitas. Não precisamos fazer como nos EUA, onde tais questões
começaram a ser levantadas somente depois da legalização; ou quando já
se concretizava. Precisamos investir em prevenção já, enquanto
amadurecemos os demais debates. Caso contrário, daqui há 20 anos
estaremos fazendo campanhas para retirar a maconha de ambientes
fechados, das mãos de menores de idade; nos preocupando com o uso
abusivo e efeitos colaterais das drogas leves etc., assim como fizemos
com o cigarro nos últimos anos.
Quando me perguntam sobre a legalização das drogas em palestras ou
aulas em escolas, hospitais, e em conferências médicas, eu sempre
respondo que não sei ao certo qual a melhor solução. Mas afirmo com
certeza que em ambos os casos a prevenção e a orientação sobre os
riscos das mesmas é essencial e deve ser iniciada já. Para o pediatra, a
questão central não é se vão ou não descriminalizar ou legalizar as
drogas; mas sim ter certeza de que seus pacientes estarão bem
informados e preparados para fazer a decisão certa quando precisarem
escolher entre usar ou não drogas.